Arrumar a tralha!

Decidimos alugar a casa de Lisboa, para ficarmos sem despesas em Portugal. Isso significou tirar todos os nossos objetos pessoais, bem como livros, pratos, copos, etc… A casa ficou entregue ao Daniel, amigo nosso, por isso deixei-lhe tudo o que precisa no dia a dia, toalhas, lençóis, panos de cozinha, tachos, panelas, detergentes, enfim… Mas guardei o serviço Vista Alegre que tanto custou à mãe e à tia Lina a fazer, guardei as toalhas bordadas, oferta das nossas avós, guardei os enfeites de Natal que comprei e que o Craig e a Susan nos ofereceram. O fondue + pedra quente oferta dos Tios Fernanda e Zé António também foi guardado. Guardei, ainda, as fotos dos nossos sobrinhos que nos recebiam à entrada, guardei o presente que a minha equipa da Decathlon me ofereceu antes de sair. O Ricardo guardou os gadgets dele e restantes coisas de gajo. A entrada lá de casa era só caixas de cartão nas duas últimas semanas. A viagem para o Alentejo com os dois carros atolhados foi feita a 90 km/ h e com cuidado nas curvas, com medo que as caixas que iam no banco do pendura caíssem para cima de nós.

No último dia ainda estávamos a dobrar roupa para deixar em casa das mães em Lisboa para irmos trazendo nas próximas viagens…

É um exercício engraçado! Pensamos porque é que acumulamos tanta coisa, há quanto tempo não víamos aquelas fotos e descobrimos que nos esquecemos de devolver uma carrada de coisas dos amigos (a comoda da entrada ficou cheia de saquinhos com coisas para entregar nos últimos dias).

Duas vidas dentro de caixas. Interrogo-me quando é que voltarão a sair de lá de dentro.

Emprego

O nosso plano de ação é 90% sobre este item! Primeiro decidir em que é que queríamos trabalhar, depois como iríamos abordar o mercado, por fim quais os amigos que poderíamos consultar (aka melgar) acerca das contingências do mercado de trabalho no Reino Unido.

O Ricardo decidiu que queria trabalhar no mercado das bicicletas. A estratégia dele passa, principalmente, pelo LinkedIn, construir uma rede de contatos no ramo. Entretanto, soube que na semana em que chegamos há o London Bike Show e já se inscreveu para visitar o certame. Como trabalhou na Specialized, sabe que olham duas vezes para o CV dele neste ramo e, inclusive, o country manager enviou-o para as “concept stores”.

O meu plano passa por jogar o jogo dos head hunters ao contrário! Estes, normalmente, procuram candidatos através do LinkedIn, identificam as empresas com boas práticas, depois quem trabalha nestas, adicionam-nos e depois pedem o CV e uma reunião. Eu comecei por identificar as empresas e pessoas que recrutam para o retalho (o Experteer foi essencial para começar) e comecei a adicioná-los no LinkedIn, depois apresentei-me e as minhas expetativas. Mais tarde, comecei também a construir uma rede de contatos entre os RH de retalho. Neste momento, a rede já conta com mais de 100 contatos. Depois conto o que fiz com eles!

Alojamento

Depois de termos a viagem marcada, começámos a pesquisar sítios para ficar. A primeira conclusão é que Londres é caro como tudo! Depois, havia tanta oferta que não nos conseguíamos decidir pela zona onde queríamos ficar, para ajudar fomos informados de que havia imensos esquemas online e que, portanto, era melhor não reservarmos nada sem ver. Tudo a ajudar! Começámos a chatear os amigos, os amigos dos amigos e os amigos dos amigos dos amigos. Quem conhecia alguém que nos alugasse um quarto por algum tempo, numa zona central e com bons transportes?

Já estávamos a ficar assustados quando, em vésperas de Natal, a boa notícia chegou via a minha cunhada. Uma amiga dela, ainda vão ler muito sobre esta, hoje, nossa amiga Sónia, propunha-se receber-nos em sua casa, se fosse necessário, por alguns dias e conhecia uma senhora na comunidade portuguesa que tinha um quarto para alugar. O único mas é que a senhora tinha ido passar o Natal a Portugal e não havia forma de a contatar até ao seu regresso.

Posso-vos dizer que só na véspera da nossa viagem é que a Sónia nos confirmou que o quarto estava livre e que era nosso se o quiséssemos, decisão a tomar quando chegássemos e o víssemos.

Portanto, até à véspera estivemos a ver quartos online, a tentar marcar visitas para o dia seguinte à nossa chegada, etc… para não abusarmos da prometida hospitalidade da Sónia e do Zé. Deste trabalho resultou que sabemos onde queremos procurar quando chegar a altura de passar para um apartamento só nosso!

Plano em marcha

A decisão seguinte a tomar foi quando arrancar e para onde? O quando arrancar foi, altamente, condicionado pela época natalícia que se aproximava. Por um lado eu trabalho em Retalho e para as posições a que me candidato, ninguém contrata nesta altura, por outro lado achámos que merecíamos passar as festas com a nossa família e amigos. Há que acrescentar o facto do irmão do Ricardo também ter emigrado recentemente e este Natal foi a primeira vez que regressou a casa.

O para onde revelou-se lógico. Londres é a capital e é onde estão sediadas a maior parte das empresas de recrutamento, se tencionamos ficar por aqui? Nem por isso! Gostamos da cidade, é grande, tem tudo, mas preferíamos algo menos central e mais calmo.

O certo é que, em Outubro, comprámos bilhetes para depois do Natal e isso deixava-nos com 2 meses para preparar a vinda. Arregaçámos as mangas e pusemos os dedos a trabalhar, foram muitas horas na internet, mas isso é assunto para outro post.

Plano de Ação

Quando começámos a aprofundar conhecimentos sobre o Reino Unido, a informação amontoava-se e rapidamente descobrimos que precisávamos sistematizar a mesma e definir estratégias. Decidimo-nos por criar um documento no Google drive, partilhado pelos dois onde fomos descarregando a informação que já possuíamos como os detalhes do voo, o nosso nº de telefone inglês que a prima do Ricardo nos arranjou, a morada da minha prima para usar nas candidaturas que fizéssemos enquanto não chegávamos e, principalmente, qual a estratégia que cada um de nós ia utilizar para se apresentar ao mercado!

Mais tarde, criámos um segundo documento, também partilhado, para os contactos que os amigos nos iam dando de amigos que já estavam no Reino Unido.

Se cumprimos o plano de acção à risca? Eh! Digamos que o importante foi escrever as linhas orientadoras, depois adaptar ao que ia acontecendo e mudar mesmo algumas resoluções. Afinal, a vida é o que acontece no meio dos planos!

Green Card

E em Setembro apercebemo-nos de que o concurso para concorrer ao Green Card estava quase a acabar. O Ricardo adora os EUA (eu nunca lá fui, mas devo gostar daquilo) e, portanto, a hipótese de ganhar uma valiosa autorização de residência tinha de ser aproveitada.

Lá andou o Ricardo a perceber todos os meandros da coisa e a decorar as instruções sobre a fotografia a juntar ao processo. E, olhem que são exigentes com a coisa!

Em dia de Ignite Portugal, estava eu pronta para sair, bem maquilhada, mas discreta que aquilo mete paletes, mas não quer dizer que se vá mal-arranjada, e o Ricardo a insistir que era de aproveitar para tirar a foto para o green card. Obrigou-me a encostar a uma parede lá de casa e disparou a câmara. Ainda bem que não podia sorrir, porque contrariada como eu estava, não iria dar grande coisa.

Claro que as fotos que eu lhe tirei estavam tremidas e/ ou cheias de sombras e tiveram de ser repetidas no dia seguinte.

Pronto, finalmente preenchemos o formulário online. Agora é esperar uns meses e ver se nos sai alguma coisa. E vocês, mais alguém concorreu?

Escolher o destino

Este foi o nosso primeiro desafio! Começámos por pensar nos idiomas que falamos, o mundo lusófono era uma excelente hipótese. Numa primeira fase pusemos Angola de parte, devido às assimetrias sociais, nada fáceis de encarar por dois filhos da classe média e a quem custa entender quando esta quase não existe. Numa segunda fase, pensámos no Brasil, é uma economia a crescer, o retalho tem tido um boum enorme e precisam muito de pessoal qualificado. No entanto, a dificuldade em conseguir visto e a falta de fundos para financiar uma viagem exploratória fizeram-nos mudar de ideias.

Olhámos para mais perto e a Europa pareceu-nos um destino mais viável. Escolhemos o Reino Unido por, apesar de também ser afectado pela crise, estar melhor protegido pela Libra, versus o Euro. Também é um mercado que acrescenta valor a quem passa por ele e isso faz com que compense o frio e a falta de sol.

Crónicas de uma emigrante!

Estou desempregada há 18 meses. O meu namorado há 6 meses. Apesar dos muitos cv’s enviados, das muitas entrevistas, de ter ativado toda a minha rede de contatos e da considerável experiencia e qualificações que possuo, não surge emprego para mim. Do lado do Ricardo, acontece o mesmo.

Assim, decidimos que era a oportunidade ideal para a experiencia internacional que sempre desejámos. Comprámos bilhetes e aqui vamos nós para outro país. Vamos cheios de esperança e confiantes nas nossas capacidades. Este blog vai-vos contar todas as nossas peripécias ao longo do tempo. Venham connosco!